Como em qualquer bom conto que se tenha nas mãos, esse começa com três adoráveis irmãos. Antaro, Antera e Anturo, querendo viver uma história de ação.
Antaro era o mais destemido, porém de menos bondade no coração;
Antera era tão bela, mas sucumbia a qualquer emoção;
Anturo era sábio, mas ainda não tinha essa compreensão;
Numa bela tarde de um dia de verão, Antaro teve uma ideia para conseguir dos irmãos sua atenção.
“Vamos descer o vale, lá onde reina a escuridão! Sinto que lá embaixo encontraremos alguém sábio e de razão”.
Antera bateu palmas e se levantou de prontidão. Mas Anturo ficou parado, mostrando receio em sua expressão.
“Lá embaixo vive um homem totalmente indigente. Uma viagem a sua casa seria muito imprudente”.
Ouvindo seu irmão, Antaro não se incomodou. Tratou de dizer calmas palavras e o rosto de Anturo desanuviou.
“Ele é pobre, mas sereno como você. Dizem que prevê o futuro, tem o olho que tudo vê”.
Uma vez que se entenderam em comum aprovação, os irmãos desceram o vale, deixaram para trás seu grande reino, começando a expedição.
Após uma hora caminhar sem nem um segundo cessar, logo encontraram uma caverna onde era improvável alguém morar. Descobriram que estavam errados quando um velho barbudo saiu: calça rasgada, blusa suja e um desajeitado corpanzil.
“Viemos aqui, senhor, em busca de aventura”, disse-lhe Antaro com espírito de bravura.
“Aqui diversão não irão encontrar, apenas os mais humildes e sábios saem daqui e felicidade podem buscar.”
“Não somos humildes, mas temos muito ouro!”, disse-lhe Antera crendo este ser seu maior tesouro.
“Se dos meus serviços querem mesmo desfrutar, receio que não há nada que possa fazer para ajudar”.
Com essas palavras, o velho fechou os olhos e se calou. Depois de muito tempo, reabriu-os e alguns versos entoou.
“Eu não vejo o destino, mas posso presumir
Que todos vocês três em breve vão ruir
Antaro, tão corajoso, terá finalmente medo
E não agüentando a dor, partirá deste mundo muito cedo
Antera, tão bela, uma doença irá contrair
E nem todo o dinheiro do mundo poderá sua morte impedir
Anturo, tão calmo e sereno, fico triste de anunciar
Que a pior escolha de sua vida sua morte irá causar”
Aquela profecia um ultraje foi considerada. Nenhum homem no mundo com aqueles irmãos agira antes de maneira tão ousada!
O velho, decidiram, seria levado como prisioneiro.
“Vamos ver”, debochou Antaro, “de acordo com sua história quem de nós morrerá primeiro!”
Vários dias transcorreram e nada de mal se passou. Até esqueceram-se do cântico que aquele velho proclamou! É claro que ele ficara maluco, naquela caverna sozinho caducou…
Mas Antera não se esquecera e ficou preocupada. De tanto se preocupar, acabou ficando obcecada. Numa certa noite, acabara de anoitecer, o médico dos irmãos deu a notícia que ela acabara de adoecer.
“Cure-a, imprestável!”, gritou logo Antaro.
“Esse mal eu não conheço”, explicou o médico, “é algo muito raro”.
Todos os dias os irmãos, então, visitavam a bela jovem. Antera acabara se conformando. “Todos um dia morrem”.
Mas quando por fim, um dia, a mulher faleceu, Antaro se isolou, por ela muito sofreu.
Anturo também sofria, às vezes nem queria estar vivo. Só que com Antaro era pior e ele caiu depressivo.
Nada que Anturo dissesse conseguia ajudá-lo, seus esforços de que o irmão deveria aceitar a vida e a morte não era o suficiente para curá-lo.
Já era noite quando Anturo foi acordado. Vieram avisá-lo que seu irmão da torre mais alta tinha se jogado.
Em sua desolação, Anturo lembrou-se daquele infeliz dia em que procuraram aquele velho e saíram em zombaria.
Desceu até o calabouço onde ele era mantido preso, desembainhou sua espada e deixou o candelabro aceso. Lá estava o velho, caído no chão, mas Anturo não ligou, sua raiva suprimia a compaixão.
“Você matou os irmãos que eu amava. Mas sua profecia inteira não vai acontecer. Eu também não vou morrer porque eu escolho viver”.
Para sua surpresa, o velho sorria.
“Eu sempre soube que você viria. Os mais sábios sempre vêm mais dia, menos dia.
Nunca quis matar nenhum irmão seu. Eles morreram porque queriam acreditar que quem sabia de seu futuro era eu!
O cântico não era verdadeiro, mas sua irmã Antera acreditou por inteiro. A doença que a matou era a preocupação, não conseguiu viver sabendo sua suposta futura condição.
Seu irmão, Antaro, também acreditou que a morte era o seu futuro. Acreditou no que eu dissera, entregou-se à tristeza e matou-se inseguro.
Você, Anturo, não se deixou levar pela minha revelação. Viveu a sua vida normalmente e sem hesitação.
Não acabe acreditando no que o outro acha que pode prever; seu futuro quem fará é você, outros não sabem o que vai acontecer. Siga daqui em diante levando consigo essa lição: ser influenciado é uma capacidade que só é usada em vão.
Anturo libertou o velho e, juntos, fugiram. Nunca mais se ouviu falar dos dois, mas sabe-se que muito felizes seguiram.
Muita gente tem a péssima mania de se deixar levar. Acredita em tudo que lhes diz, faz tudo o que lhes manda fazer, deixa de fazer o que gosta em função de motivos que com certeza não são os certos. Mudar por influência de alguém só mostra como a opinião alheia é mais importante do que a sua. Não é só no conto que essa história acaba de forma trágica. Seguir pela cabeça dos outros também mata aquilo que o diferencia dos demais: a personalidade. Perdê-la é viver como escravo da opinião alheia. Feliz daquele que, como Anturo, aprendeu que ouvir o que os outros pensam sobre si mesmo só vale a pena quando está de acordo com os seus próprios planos.
Amei o post. Super realista. E interessante.
Obrigado, espero que volte logo :)